História da Alemanha
As terras da Alemanha são habitadas há muitos milhares de anos. Na Idade do Bronze, essas terras eram ocupadas por povos indo-europeus. Alguns séculos antes da Era Cristã, povos germânicos habitavam o norte e centro da atual Alemanha. Celtas povoaram o sul e o oeste.
Antes de 50 aC, durante a conquista da Gália, o general romano Júlio Cesar cruzou o Rio Reno e invadiu a Germânia, como os romanos chamavam essa parte da Europa, que incluía a maior parte da atual Alemanha. A Gália romana foi limitada pelo Reno. Envolvia a atual França, Bélgica e uma parte do oeste da Alemanha. Nos séculos seguintes, os romanos continuaram os embates com tribos germânicas, conquistando mais algumas terras da Germânia, mas não a maior parte. Por volta do século 3, existia alguma estabilidade nas relações entre os romanos e as tribos germânicas, que aprenderam a cultura romana e suas técnicas de guerra. No século 5, tribos germânicas invadiram o Império Romano e dominaram parte de seu território, incluindo a Península Ibérica.
Chamamos de Alemanha, e não Germânia, por causa dos alamanos (Alamanni, em latim), um grupo de tribos germânicas que habitavam o sul e o oeste da Alemanha.
No final do século 5, a Germânia começou a ser conquistada pelos francos, com a consequente introdução do Cristianismo. Essa foi uma época de grandes ondas migratórias na Europa. No final do século 8, a maior parte da Germânia fazia parte do Império de Carlos Magno. A residência principal de Carlos Magno ficava em Aachen, atualmente uma cidade alemã, perto da fronteira com a Bélgica. Em 800, em sua coroação pelo Papa Leão III, Carlos Magno adotou o título "Carlos, muito sereno Augusto, coroado por Deus, grande e pacífico imperador, governando o Império Romano". Seu Império era aproximadamente a Europa Central, até Roma.
Em 888, após a morte de Carlos, o Gordo, os reinos que integravam o Império Romano de Carlos Magno passaram a contestar a legitimidade de seus sucessores, especialmente os reinos da Itália. O Império fragmentou-se. Em 936, Oto, Duque da Saxônia, foi coroado Rei da Germânia e conseguiu reunificar parte dos reinos do antigo Império de Carlos Magno, que veio a ser conhecido como Sacro Império Romano. Essa denominação, entretanto, só foi usada a partir de 1254. Esse Império também ficou conhecido como o Primeiro Reich.
Os sucessores de Oto, Oto II e Oto III, muito favoreceram Roma em detrimento do Reich (Império). A partir do século 11, alguns imperadores buscaram mais autonomia, em relação a Roma, mas sempre com muitos conflitos. Essa foi a época das Cruzadas à Terra Santa, mas os alemães não tiveram grande destaque nesses lutas. Com o passar dos séculos, o Imperador tornava-se, cada vez mais, uma figura simbólica. Príncipes, duques e outros nobres ganhavam mais poder sobre suas regiões.
Em 1378, houve o Cisma da Igreja Católica Ocidental, que durou até 1417. Nessa época, houve dois ou três papas, ao mesmo tempo. Havia certa hostilidade com relação à Igreja, seus métodos e, principalmente, sobre a arrecadação de fundos, como a venda de indulgências. Os conflitos dos alemães com o Clero continuaram. Em 1452, Frederico III tornou-se o último Imperador alemão coroado por um Papa.
Em 1455 ou antes, Johannes Gutenberg publicou sua Bíblia, na Alemanha, em latim vulgar, iniciando uma revolução na imprensa. Mais: História da Imprensa ►
Em 1517, o monge e teólogo alemão Martinho Lutero publicou 95 teses que desafiavam as práticas do Clero. Em 1520, Lutero foi excomungado e declarado herege, no ano seguinte, pelo Papa Leão X. As teses de Lutero reverberaram pela Europa resultando na Reforma Protestante.
Em 1519, Carlos I da Espanha sucedeu seu avô Maximiliano como Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano, que governou até 1556, quando abdicou em favor de seu irmão Fernando I. Foi uma época de muitos conflitos no Império, com guerras civis e imperadores fracos. A Alemanha tornou-se, na prática, dividida em pequenos estados. No início do século 17, os estados alemães protestantes uniram-se. A Baviera liderava os estados alemães católicos. Os conflitos entre católicos e protestantes continuaram pelas décadas seguintes. Os alemães estavam divididos em muitas dezenas de partes: principados, cidades livres, bispados, repúblicas e protetorados.
No final do século 17, os alemães tiveram que se unir para deter o avanço dos turcos otomanos pelo sudeste da Europa.
Em 1701, Frederico I coroou-se Rei da Prússia. Essa era uma região da Europa, que envolvia parte norte da atual Alemanha, parte da atual Polônia, Kaliningrado (Rússia) e parte da Lituânia. Em 1701, a Prússia foi, assim, elevada à condição de Reino, com capital em Berlim e maioria protestante. Em 1747, a Prússia incorporou a Silésia.
Em agosto de 1806, após derrotas nas Guerras Napoleônicas, o Sacro Império Romano foi extinto, com a renúncia de seu Imperador Francisco II. Em outubro daquele ano, Napoleão fez sua entrada triunfal em Berlim, depois, reorganizou, a seu modo, os estados alemães.
Após as Guerras Napoleônicas, a reestruturação da Europa foi discutida no Congresso de Viena (1814/1815) e estabeleceu-se a Confederação Germânica, um tipo de coligação entre estados alemães, com um Parlamento em Frankfurt, que participavam Prússia, Áustria, Saxônia, Baviera, Hanover e outros.
No século 19, muitos alemães migraram para a América. No Brasil, a primeira colônia de imigrantes alemães foi a Colônia Leopoldina, em Nova Viçosa, sul da Bahia, fundada em 1818.
Em 21 de fevereiro de 1848, os alemães Marx e Engels publicaram, em Londres, o Manifesto Comunista. Em março seguinte, ânimos nacionalistas e aspirações do proletariado deflagraram a Revolução de Berlim. Como resultado, criou-se uma Assembleia Nacional Constituinte, em Frankfurt, mas as disputas entre a Prússia (de maioria protestante) e a Áustria (de maioria católica) malograram a ideia de unidade alemã. A Assembleia acabou dissolvida em 1849.
Em 1861, Guilherme I subiu ao trono da Prússia e buscou unir os alemães à força. Em 1862, Otto von Bismarck tornou-se o Primeiro Ministro da Prússia. Em 1865, a Prússia venceu as disputas que envolviam a Dinamarca. As batalhas começaram em 1866, com derrota da Áustria. No ano seguinte, a Confederação Germânica foi dissolvida e formou-se a Confederação da Alemanha do Norte, com sede em Berlim.
Em 1870, questões diplomáticas, envolvendo a sucessão na Espanha, levaram o Imperador Napoleão III, da França, a declarar guerra à Prússia. A França foi derrotada na Batalha de Sedan, Napoleão III caiu prisioneiro. Depois, Paris foi bombardeada.
Com sua força demonstrada, a Prússia submeteu os demais estados alemães, com exceção da Áustria, e o Império Alemão foi fundado, em 18 de janeiro de 1871, o Segundo Reich. Guilherme I foi proclamado Imperador. Colônias foram conquistadas na África (Namíbia, Camarões, Tanzânia e Togo) e Oceania (Samoa, Yap e outras).
No início do século 20, a Europa era um barril de pólvora. Além dos conflitos entre os ideias sociais, as nações buscavam dominar o cenário político e os alemães não diminuíram sua arrogância. Tentativas de paz foram feitas em Haia, onde se destacou o baiano Ruy Barbosa. Mas a Grande Guerra veio em 1914. De um lado lideravam a Alemanha e a Áustria-Hungria, do outro, a Grã-Bretanha, Rússia e França, mas países de todo o mundo foram arrastados para o conflito, inclusive o Brasil.
A Grande Guerra acabou em 1918. A Alemanha ficou do lado derrotado. O Imperador, Guilherme II fugiu para a Holanda. No ano seguinte, o Tratado de Versalhes estabeleceu a devolução da Alsácia, da Lorena e de outros territórios conquistados no II Reich. A Alemanha perdeu suas colônias da África e da Oceania e uma imensa reparação financeira foi imposta aos vencidos.
Em 1919, a Alemanha transformou-se em República, com a Constituição de Weimar, que levou o nome da cidade onde a Assembleia se reuniu. Os anos 1920 foram humilhantes para os alemães. A reparação financeira da Guerra gerou hiperinflação e crise econômica. Esse foi o palco para a ascensão do Nazismo.
Por volta de 1928, a economia alemã estava em franca recuperação, mas a reparação financeira da Grande Guerra continuava. Naquele ano foi construído o dirigível Graf Zeppelin, que rodou o mundo.
Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler, com seu discurso de ódio, culpando estrangeiros e judeus pelos males que afligiam os alemães, alcançou o poder, com seu partido Nazista, como Primeiro Ministro. Depois, tornou-se ditador do Terceiro Reich.
Em 1936, a Alemanha já era uma potência mundial e desafiava a todos, com sua política racista. Hitler passou a ocupar os territórios retirados da Alemanha, pelo Tratado de Versalhes. Em 1937, aliou-se a Mussolini, ditador da Itália. Em 1938, anexou a Áustria. Em 1939, ocupou Praga, invadiu a Polônia e começou a II Guerra Mundial.
O mundo foi arrastado para a Guerra, inclusive o Brasil. A Alemanha e o Japão, seu aliado, começaram com vitórias, conquistando mais territórios. Em 1942, a maré mudou de lado. Em maio de 1945, os soviéticos tomaram Berlim. As principais cidades alemãs viraram escombros.
Os aliados vencedores dividiram a Alemanha. Em 1949, foi criada a Alemanha Oriental (comunista), separada da Alemanha Ocidental (capitalista). Em 1961, foi construído o Muro de Berlim, separando os lados capitalista e comunista da Cidade. Os comunistas buscavam parar as deserções para o lado Ocidental. Em 1990, o Muro foi derrubado e as duas Alemanhas foram reunificadas, nos anos seguintes.
O século 20 terminou com a Alemanha sendo a terceira maior potência econômica mundial, atrás dos EUA e Japão.
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Cena do filme Gladiador (2000), com Russell Crowe, em que os romanos enfrentam tribos germânicas durante o governo de Marco Aurélio (anos 161-180). É uma refilmagem, com alterações, da Queda do Império Romano (1964). Embora a queda do Império ainda estivesse longe, no tempo, foram as tribos germânicas que mais tiraram proveito da fraqueza de Roma, no século 5.
Catedral de Aachen. Sua construção primitiva data da época coroação de Carlos Magno, no ano 800. No século 10, Oto governou, de Aachen, o Sacro Império Romano. A Cidade abriga imenso patrimônio histórico.
Acima, destruição de papel moeda do marco alemão, devido à hiperinflação (foto Georg Pahl). Em 20 de novembro de 1923, 1 dólar valia 4.200.000.000.000 marcos. Uma nova moeda foi, então, criada, o rentenmark, substituída pelo reichsmark, em 1924.
Cemitério Alemão de Salvador (Bahia Fremdenfriedhof), fundado em 1851 pelos alemães e suíços de Salvador. A Bahia foi o berço da imigração alemã no Brasil, com a primeira colônia fundada em 1818, Colônia de Leopoldina, no sul da Bahia.
Rendição de Napoleão III a Bismarck, em 2 de setembro de 1870, no dia seguinte à Batalha de Sedan. Tela de Anton von Werner (1843-1915).
Embaixo, Martinho Lutero defendendo suas ideias, em Worms (Alemanha), em 1521 (pintura de Anton von Werner, 1877). As ideias de Lutero desencadearam a Reforma Protestante.
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Área do Portão de Brandemburgo, em Berlim, em junho de 1945, após a rendição dos alemães (foto Carl Weinrother) na II Guerra Mundial. As aspirações racistas e xenofóbicas dos alemães terminaram com tragédias para todos.
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A Revolução de Berlim, em 18 de março de 1848.
Entrada de Napoleão em Berlim, em 27 de outubro de 1806 (tela de Charles Meynier).
O Graf Zeppelin na Bahia, no início dos anos 1930, símbolo da recuperação econômica alemã.
Por Jonildo Bacelar
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